Mercado de trabalho
Brics Pay pode quebrar o domínio do dólar no mundo?
Visa e Mastercard já devem colocar as barbas de molho.


O sistema financeiro global vive um momento de fratura e reinvenção, onde as placas tectônicas da economia mundial se rearranjam sob tensões crescentes. No centro dessa transformação, o Brics — originalmente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora ampliado com Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Tailândia, Malásia e Indonésia — emerge como protagonista improvável, desafiando a hegemonia do dólar e a arquitetura financeira dominada pelos Estados Unidos.
A criação do Brics Pay, uma plataforma de pagamentos digitais baseada em blockchain, não é apenas um experimento técnico: é um grito de independência econômica, uma tentativa de reescrever as regras de um jogo historicamente controlado pelo Ocidente.
A rede Swift, estabelecida na Bélgica em 1973, conecta mais de 200 países e processa a espinha dorsal das transações internacionais. Sua fachada de neutralidade, porém, esconde laços profundos com interesses ocidentais.
Em 2022, a exclusão parcial da Rússia desse sistema, em resposta à guerra na Ucrânia, expôs como o controle financeiro pode ser arma geopolítica. O dólar, presente em 84% das transações globais, segundo o Banco de Compensações Internacionais, é o coração desse mecanismo. Mas os países do Brics, que detêm 42% das reservas cambiais globais, estão diversificando: o ouro, que representa apenas 10% de suas reservas (metade da média mundial), começa a ganhar espaço como ativo estratégico.
A resposta do bloco é audaciosa. A Rússia desenvolveu o SPFS, um sistema de mensagens financeiras que já alcança aliados, enquanto a China expande o CIPS, centrado no yuan, que acompanha sua crescente influência comercial.
O Brics Pay, por sua vez, utiliza moedas digitais de bancos centrais para transações diretas entre membros, eliminando intermediários e reduzindo custos de conversão. Acordos bilaterais, como o entre Brasil e China para operar em reais e yuans, mostram o conceito ganhando vida: em 2024, as moedas do Brics já representavam 6,4% das transações via Swift, um salto notável. Pausa para um cafezinho: Os barões da Visa e da Mastercard devem estar suando frio: o Brics Pay, com seu blockchain afiado, ameaça transformar seus impérios de cartão em relíquias de um mundo dolarizado que já vê rachaduras na base!
Essa desdolarização não é apenas técnica — é um manifesto político contra a instrumentalização do dólar como ferramenta de coerção, vista nas sanções contra Rússia, Irã e Venezuela.
Os Estados Unidos, cientes do desafio, reagem com firmeza. Em 2019, Donald Trump ameaçou tarifas de 100% contra o Brics por questionar o dólar; em 2025, já de volta ao poder, elevou o tom para 150%, alertando que uma moeda comum do bloco poderia “colapsar a economia americana”.
A mensagem é clara: o dólar não é apenas moeda, é pilar do poder global de Washington. Mesmo assim, o Brics avança. Sob a presidência brasileira em 2025, o bloco convidou México, Uruguai e Colômbia para o summit de julho, defendendo comércio livre e multilateralismo contra o unilateralismo ocidental.
A expansão do grupo, com mais de 50 nações interessadas, reflete o apelo de uma alternativa ao Sul Global. A entrada de gigantes petrolíferos como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos reforça seu peso, enquanto parceiros como Argélia e Nigéria ampliam sua influência. Projeções indicam que, até 2028, o Brics+ responderá por 37,9% do PIB global em paridade de poder de compra, superando o G7. 2 Bancos centrais do bloco acumulam mais de 1.000 toneladas de ouro anualmente, sinalizando um movimento estratégico para reduzir a dependência do dólar.
Essa iniciativa ecoa entre pensadores econômicos globais, que veem na desdolarização um reequilíbrio necessário. Paul Krugman, Nobel de Economia, reconhece que o domínio do dólar “não durará para sempre”, embora minimize o pânico imediato, argumentando que preocupações com a desdolarização são “muito barulho por quase nada”. Essa visão de Krugman, enraizada na análise de décadas de estabilidade americana, destaca como o declínio gradual do dólar poderia abrir portas para sistemas multipolares, reduzindo riscos sistêmicos de crises como a de 2008, onde a dependência de uma moeda única amplificou choques globais e perpetuou desigualdades entre nações emergentes e desenvolvidas.
Fernando Haddad, ministro brasileiro da Fazenda, defendeu uma moeda comum sul-americana como escudo contra crises externas, estendendo o raciocínio ao Brics para fomentar pagamentos em divisas nacionais. Entendo essa proposta, que imagino inspirada em integrações regionais como o euro, mas adaptada ao contexto do Sul Global, poderia estabilizar fluxos comerciais voláteis, mitigar impactos de especulações cambiais e impulsionar investimentos internos, criando um ciclo virtuoso de crescimento autônomo que desafia o modelo neoliberal imposto por instituições ocidentais.
Sergey Glazyev, economista russo e ex-ministro, afirma que o dólar se tornou “cada vez mais tóxico”, propondo uma moeda Brics como unidade dual de cesta para assentamentos internacionais, mais estável e atrativa que o dólar ou euro. 0 Essa ideia, fundamentada na experiência russa com sanções, que já vem há décadas, revela como a toxicidade do dólar — via congelamento de ativos e exclusões financeiras — acelera a transição para alternativas lastreadas em commodities, potencialmente reconfigurando o comércio global para priorizar estabilidade real sobre hegemonia política, e fortalecendo a resiliência de economias sob pressão imperial.
Zhou Xiaochuan, ex-governador do Banco Central chinês, clama por “reforma criativa do sistema monetário internacional” rumo a uma moeda de reserva estável, criticando as deficiências inerentes de moedas nacionais baseadas em crédito como o dólar. Sua proposta, ecoando debates pós-Bretton Woods, enfatiza a expansão do SDR (Direitos Especiais de Saque é um ativo de reserva internacional criado pelo FMI) para incluir economias maiores, o que poderia democratizar o acesso a liquidez global, reduzir volatilidades causadas por políticas monetárias unilaterais dos EUA e pavimentar o caminho para uma governança financeira mais inclusiva, onde nações como China e Índia influenciam normas que historicamente as marginalizaram. Bem ao estilo chinês:comedido, zero foguetório, gente que sabe que o tempo para ouvir deve ser o dobro do tempo para falar.
Jacques Sapir, economista francês, prevê que o Brics+ deslocará 70-80% do comércio para fora do dólar nos próximos cinco anos via mecanismos como o Brics Clear, marcando uma “desdolarização em prática” como o “Santo Graal” do bloco. Concordo com a previsão do francês. Essa projeção, ancorada em tendências de expansão do bloco e adoção de tecnologias financeiras, ilustra como a desdolarização não apenas fragmenta o monopólio americano, mas reconstrói redes comerciais baseadas em reciprocidade, potencialmente elevando o PIB coletivo do Sul Global ao mitigar custos de transação e exposição a ciclos recessivos impostos por Washington, fomentando uma ordem multipolar que equilibra poder econômico com justiça distributiva.
Diferenças internas, como as tensões entre Índia e China, e a falta de infraestrutura tecnológica unificada desafiam a coesão. A pressão ocidental, com sanções e barreiras comerciais, permanece uma ameaça constante. Ainda assim, o Brics Pay acende uma faísca de transformação. Mais que uma plataforma, é um símbolo de resistência, um convite para que o Sul Global deixe de ser coadjuvante e passe a ditar as regras de um sistema financeiro multipolar.
O caminho, sabemos, é tortuoso. Mas não será melhor transitar nele mais um pouco ao tempo em que se constrói uma autoestrada com várias pistas, acostamentos mais largos e bem mais seguras e sinalizadas? Você já viu como são desativadas as pontes velhas e que apresentam rachaduras? Ela sofre reparos paliativos e ao lado dela uma nova começa a tomar forma. De um lado uma ponte é desintegração e de outro uma ponte em construção
Outro perigo: E se de quatro em quatro anos assistirmos na Casa Branca uma nova versão do filme “Apertem os Cintos… o Piloto Sumiu!”, aquela comédia de 1980, dirigida pelo trio David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker?
O dólar ainda reina, mas sua coroa já não brilha sem contestação.
https://www.brasil247.com/blog/brics-pay-pode-quebrar-o-dominio-do-dolar-no-mundo
23 de agosto de 2025
Antes da morte vem o sumiço que condena os que deixam de ser vistos
A invisibilidade social talvez seja a mais cruel dentre as injustiças no Brasil. Não porque mata — mas porque apaga. E quem é apagado, antes de morrer, já deixou de existir.


No Brasil, os fantasmas não vivem apenas em histórias de assombração. Circulam entre nós, atravessam calçadas, sobem elevadores de serviço, limpam escritórios, servem cafés, cuidam de nossos filhos e pais. Não vestem lençóis brancos, mas uniformes azul-marinho, cinza, marrom ou verde-escuro. Não fazem barulho — não porque não queiram, mas porque foram ensinados, desde cedo, que sua função é cumprir a tarefa e desaparecer.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa, da Universidade de São Paulo, transformou essa percepção em pesquisa. Durante dez anos, trabalhou meio período como gari na Cidade Universitária. O que descobriu não cabia em tabelas ou gráficos: professores que o cumprimentavam pelo nome quando o encontravam sem uniforme atravessavam o corredor sem vê-lo quando ele vestia a farda laranja. O homem sumia. Ficava apenas o gari. Sua tese de doutorado batizou o fenômeno de invisibilidade pública: a cristalização do olhar que enxerga a função, mas apaga o indivíduo.
Na ficção de J.K. Rowling, a capa da invisibilidade de Harry Potter é um artefato mágico cobiçado, capaz de ocultar seu portador aos olhos de todos, oferecendo proteção e vantagem. No mundo real, porém, existe uma “capa” muito menos nobre e infinitamente mais cruel: a da invisibilidade social. Ao contrário da magia, ela não é escolhida, mas imposta — vestida, muitas vezes, pelo simples fato de exercer um trabalho considerado subalterno, de carregar a cor da pele que o preconceito rejeita ou de ocupar um espaço que a elite ignora. Essa capa não concede poder, apenas apaga a existência, tornando pessoas reais tão imperceptíveis quanto fantasmas.
A experiência de Costa é paradigmática — mas está longe de ser única. Casos recentes mostram que a invisibilidade se modernizou, diversificou e, em alguns campos, aprofundou-se.
20 de agosto de 2025
Já é hora de créditos extraordinários contra o tarifaço de Trump
Vital do Rêgo propõe ação rápida com créditos fora do arcabouço fiscal para conter danos do tarifaço ao agronegócio e à indústrias


O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros, que entra em vigor em 1º de agosto de 2025, lança sombras sobre nossa economia e exige respostas firmes. Em entrevista, o presidente do TCU, Vital do Rêgo, defende o diálogo diplomático, mas aponta os créditos extraordinários como ferramenta crucial para proteger o agronegócio e a indústria. “O custo vem de forma anormal, porque ninguém deu causa a isso”, sentencia.
Concordo integralmente com esse pensamento: é exatamente para situações que coloquem a economia nacional em perigo que existe a opção de se lançar mão de recursos extraordinários. Previstos no artigo 167, §3º da Constituição, esses recursos atendem a despesas urgentes e imprevisíveis, como crises globais, sem se submeterem ao arcabouço fiscal da Lei Complementar 200/2023 ou ao teto da EC 95/2016, garantindo agilidade essencial.
Infelizmente, nem todos os filhos do Brasil vibram com seu sucesso. Alguns, nascidos aqui, mas com a alma voltada a interesses externos, não hesitam em minar a nação em disputas internacionais. Para esses oportunistas, o governo deve socorrer exportadores contra tarifas abusivas, mas nunca com recursos extraordinários – pois, para eles, quem ajuda deve ser punido.
É o pensamento econômico dos terraplanistas. É a política em sua face mais sombria, que vira as costas ao povo e ao progresso coletivo.
A tramitação dos créditos exige precisão: uma Medida Provisória (MP), editada pelo presidente, entra em vigor imediatamente. O Congresso a avalia em até 120 dias – 45 na Câmara, 45 no Senado, prorrogáveis por 30 –, convertendo-a em lei ou rejeitando-a, com atos sob escrutínio judicial (artigo 62 da CF). A celeridade é crucial: esgotar os 120 dias seria um desserviço; decisões rápidas fortalecem a União, beneficiando todos.
Com a incerteza pós-1º de agosto, o governo age com responsabilidade, elaborando um plano robusto para apoiar empresas afetadas, contendo perdas de receita e demissões. Os ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, da Casa Civil e o Itamaraty forjaram um pacote estratégico, sob análise de Lula, para neutralizar os impactos de Trump.
Setores como combustíveis e carne podem buscar mercados alternativos, ainda que a preços menores, sem desestímulo estatal. Já o setor de aviação, liderado pela Embraer, enfrenta desafios maiores: encontrar compradores alternativos é complexo, mas a pressão de companhias aéreas americanas, dependentes de suas aeronaves, pode abrir exceções. O café, com estoques globais baixos, também pode escapar ileso.
Crises externas já testaram esse mecanismo. A pandemia de Covid-19, surgida na China em 2019, mobilizou R$ 603,7 bilhões em créditos extraordinários em 2020, com R$ 549,64 bilhões aplicados em auxílios, saúde e suporte econômico, e R$ 75,91 bilhões cancelados por subexecução, segundo o Senado. MPs como a 969/2020 destinaram R$ 10 bilhões à saúde, enquanto a 988/2020 alocou R$ 101,6 bilhões ao auxílio emergencial.
As enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, intensificadas por mudanças climáticas globais, consumiram R$ 94,38 bilhões, via MPs como a 1.218/2024 (R$ 12,2 bilhões) e a 1.244/2024 (R$ 1,25 bilhão), conforme a Casa Civil. Uma MP de setembro liberou R$ 5,1 bilhões adicionais para reconstrução.
A guerra na Ucrânia, desde 2022, elevou os preços de fertilizantes em 68% e de combustíveis em 46%, impactando bilhões em importações, segundo a Embrapa e a ANP, com ajustes via subsídios indiretos.
O tarifaço atual ameaça bilhões em exportações, e os créditos extraordinários são a resposta certa, fora das metas fiscais. Com a dívida pública em 76,1% do PIB em maio de 2025, conforme o Banco Central, moderação é essencial, mas a proposta de Vital do Rêgo é indispensável. Passei 21 anos trabalhando na Secretaria-Geral da Mesa do Senado; sei que matéria legislativa dessa monta precisa ser implementada com urgência – sem falsas batalhas legislativas – porque fortalece o Brasil contra vendavais globais, além de uni-lo em defesa de um futuro soberano.
https://www.brasil247.com/blog/ja-e-hora-de-creditos-extraordinarios-contra-o-tarifaco-de-trump
30 de julho de 2025
Futurofobia
Futurofobia paralisa jovens, que buscam causas em um mundo sufocado por telas, IA e crises globais


Futurofobia não é um susto fugaz; é um abismo que engole horizontes, como um céu engolido por nuvens de chumbo antes do amanhecer. Jovens, especialmente millennials e Geração Z, encaram o futuro como um campo minado, tecido por crises climáticas, guerras em tempo real e algoritmos que moldam destinos antes que sejam escolhidos.
Não é medo passageiro – é paralisia diante de um amanhã que parece armadilha, não promessa. Telas que devoram horas e inteligências artificiais que ameaçam ofícios alimentam um desencanto que sufoca a imaginação, roubando a ousadia de sonhar.
Renato Russo, há décadas, já via o mundo doente: “Nos deram espelhos e vimos um mundo doente.” A pressão por carreiras impecáveis, movida por um capitalismo insaciável, plantava sementes de esgotamento. Hoje, elas florescem em burnout epidêmico. Um estudo da Pew Research (2025) revela que 48% dos jovens de 13 a 17 anos veem redes sociais como prejudiciais, com 45% admitindo uso excessivo.
A globalização instantânea despeja tragédias – enchentes no Sul, fome em Gaza, fanatismo religioso no Irã, deportações em massa nos EUA – enquanto mudanças climáticas e desigualdades corroem esperanças. Jovens ouvem: “Vocês consertarão nosso fracasso.” Respondem, asfixiados: “Não fizeram o suficiente por que nos entregam um mundo mais quebrado que arroz de terceira.”
A Lancet (2024) aponta que 18% dos adolescentes de 12 a 17 anos tiveram episódios depressivos graves em 2023, com 12% relatando pensamentos suicidas. Outra análise (2025) destaca que megatendências como crises ambientais e automação agravam distúrbios mentais em 10% dos jovens de 5 a 24 anos.
Telas não são o único vilão, mas pesam: a APA (2024) associa maior exposição digital a riscos socioemocionais, com 60% dos jovens relatando ansiedade ligada a dispositivos. A IA amplifica temores: adolescentes confessam que máquinas podem superar sonhos profissionais. A AIM Youth Mental Health (2025) nota que telas criam ciclos de ansiedade, com 71.9% citando ansiedade e 64.9% stress/burnout.
Burnout é um colapso silencioso: exaustão crônica, com 82% dos jovens em risco (relatório 2025), por pressões financeiras (30%) e laborais (25%). Sintomas incluem apatia, insônia, cinismo e queda na concentração, levando a desempenho fraco.
Perceptivamente, distorce o futuro como inalcançável, com 40% sentindo-se passivos (PNAS, 2025), agravado por ansiedade climática. Saúde mental sofre: depressão e automutilação crescem, com 29% considerando autolesão (Youth Mental Health Tracker, 2024).
Jovens vagueiam em busca de uma causa que mereça suas vidas, infundindo sentido e razão vibrante para acordar. Nesse marasmo intergeracional, tornam-se alvos de ideologias extremistas, que prometem purificação mas semeiam ruínas, arrastando para divisão e ódio.
Minha geração pulsava com causas incendiárias: contracultura desafiando normas, paz e amor tecendo harmonia, lutas contra armas nucleares (que voltam com força), extremismo e imperialismo. Hoje, o fervor evaporou, clamando por novas chamas.
A imaginação definha: “Tech to the Future” (2025) mostra visões opressivas por automação. A literatura perde espaço para streams, corroendo foco.
Distopias como “The Last of Us” refletem angústias; redes isolam, algoritmos paralisam. Seriados mais assistidos trazem zumbis e mortos vivos em narrativas pessimistas onde simplesmente não há amanhã.
A “militância do sofá” – cliques inertes assinando manifestos e publicando nas redes sociais – substitui ação. “Girl Up” (2024) prova potencial, mas quantos glamourizam doenças via ChatGPT?
O risco é profecia autorrealizável: jovens passivos cristalizam pessimismo. Educadores falham em ferramentas contra o caos. “Curtida Aí” (2025) escuta: “O algoritmo me define.” “Jovens carregam crises sem manuais,” diz Vivek Murthy. “Sem sonhos, o futuro escurece,” alerta Yuval Harari. “Tecnologia pode ser corrente ou ferramenta,” reflete Satya Nadella.
Futurofobia é um grito urgente, um chamado para reacender a busca por causas que valham dias. Ignorar é condenar gerações a um vazio onde o amanhã se dissolve.
https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/7/27/futurofobia-184157.html
27 de julho de 2025
Revolução silenciosa dos invisíveis que fazem a diferença
Em um mundo corroído pela indiferença, 'Abdu'l-Bahá, Mohamed Mashali e Peter Tabichi emergiram como raízes profundas de humanidade - três homens que transformaram a doação em ato de insurreição silenciosa contra a aridez de nosso tempo


Num mundo onde o tempo corre e o egoísmo muitas vezes dita o compasso, há quem escolha caminhar contra a corrente, carregando a chama da generosidade. No Egito, sob um sol que parece queimar até os sonhos, o Dr. Mohamed Mashali (1944-2020), aos 80 anos, atravessava ruas poeirentas rumo à sua modesta clínica.
Sem carro, sem celular, apenas com um coração imenso, ele atendia filas de rostos sofridos. Cada consulta custava menos de um dólar, e muitas vezes ele abria mão até disso, pagando remédios do próprio bolso. Conhecido como o “médico dos pobres”, Mashali viveu por mais de 50 anos com quase nada, recusando fama e fortuna, mas jamais um paciente. Sua vida mudou para sempre quando um menino diabético, desesperado por não querer ser um fardo para a família faminta, ateou fogo em si mesmo.
A dor daquele garoto, que morreu em seus braços, tornou-se um juramento: dedicar-se aos que nada tinham. Até seus últimos dias, em 2020, mesmo com a saúde frágil, ele cumpriu essa promessa, deixando um legado que hoje brilha em murais na Síria e no Marrocos.
Em um canto remoto do Quênia, onde a pobreza engole esperanças e a eletricidade é um luxo, Peter Tabichi (1982-vivo), um monge franciscano de 36 anos, escolheu ser luz. Em uma escola com 58 alunos por sala, um único computador e internet precária, ele transformou o ensino de matemática e física com criatividade e compaixão.
Seus estudantes, muitos órfãos que caminham sete quilômetros para estudar, venceram competições nacionais de ciências e chegaram a uma feira de engenharia nos Estados Unidos. Peter doa quase todo o seu salário aos pobres, promove a paz entre tribos outrora divididas e empodera alunos cegos.
Quando recebeu o Global Teacher Prize, com seu milhão de dólares, ele já sabia: o dinheiro voltaria para sua vila, para erguer futuros. “Este prêmio é para a juventude da África”, disse, com um sorriso sereno, vestindo seu simples hábito franciscano.
Em 'Akká, no coração de um exílio imposto pelo Império Otomano, ‘Abbas Effendi, conhecido como ‘Abdu’l-Bahá (1844-1921), transformou prisões em fontes de esperança. Sob a vigilância de guardas e o peso de décadas de confinamento, ele, aos 77 anos, carregava um coração que não conhecia limites.
Sem riquezas, sem liberdade plena, apenas com uma fé inabalável no serviço, ele acolhia peregrinos, pobres e doentes, compartilhando o pouco pão que tinha. Conhecido como o “Mestre de 'Akká’”, ele viveu para os outros, recusando honrarias, mas jamais um necessitado. Sua vida mudou ainda jovem, quando, aos 8 anos, testemunhou a prisão de sua família por suas crenças bahá’ís, jurando dedicar-se aos esquecidos.
Em Bagdá, ele cuidava de órfãos, oferecendo-lhes comida e abrigo; em Haifa, distribuía mantimentos aos famintos nas ruas, muitas vezes tirando do próprio prato. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando a fome devastava a Palestina, ele organizou a distribuição de grãos armazenados, salvando milhares de vidas, independentemente de credo, raça ou origem. Ele visitava leprosos rejeitados, levando-lhes conforto e dignidade, e consolava prisioneiros com palavras que reacendiam a esperança.
‘Abdu’l-Bahá promovia a unidade entre religiões, reunindo muçulmanos, cristãos e judeus em diálogos de paz, desafiando séculos de divisão. Em suas viagens ao Ocidente, entre 1911 e 1913, ele falava a multidões sobre igualdade racial e justiça social, abraçando os marginalizados, como os afro-americanos nos Estados Unidos, em tempos de segregação. Mesmo exausto, ele caminhava pelas vilas, atendendo a cada alma que o procurava, do mendigo ao erudito, com o mesmo amor.
Quando líderes o convidavam para banquetes, ele preferia os humildes, compartilhando seu tempo e consolo. “A verdadeira felicidade está em servir”, dizia, com um sorriso sereno, vestindo sua túnica simples. Até seus últimos dias, em 1921, com a saúde fragilizada, ele continuou servindo, deixando um legado que ecoa em comunidades bahá’ís e além, inspirando milhões a viver para o outro.
Mashali, Tabichi e ‘Abdu’l-Bahá, separados por continentes e eras, são unidos por uma verdade eterna: generosidade é resistência. Eles viram a dor – a do menino que se foi, a dos alunos esquecidos, a dos exilados famintos – e escolheram transformá-la em pontes para a esperança.
A generosidade não precisa de grandes gestos; é o pão dividido, o tempo doado, a mão estendida.
É o médico que paga pelo remédio, o professor que ensina a sonhar, o servo que alimenta os famintos. Suas histórias nos desafiam: o que oferecemos ao mundo? Num tempo de divisões, eles nos mostram que a verdadeira riqueza não se acumula, mas se compartilha. Possam seus legados – pintados em murais, gravados em corações ou ecoados em atos – nos inspirem como bússolas para o bem viver, a dar sem esperar, a viver para o outro. Porque, no fim, é isso que nos faz humanos.
21 de julho de 2025
A indiferença que cerca quem está vivo, mas perdeu o lugar
Preconceito contra idosos apaga vidas e experiências, sustenta exclusões e impede que a longevidade seja celebrada como conquista coletiva


No início dos anos 1990, Norberto Bobbio, então um jurista italiano de 80 anos, subiu lentamente ao palco da aula magna do curso de Direito em Palermo. Diante de 5 mil estudantes vindos de toda a Itália, ele abriu sua conferência com uma reflexão desconcertante: “Vocês devem ter notado que entrei devagar, talvez pensando o que esse velho tem a nos ensinar. Meu único medo era cair, pois, na minha idade, uma queda pode ser fatal. E confesso: meu coração acelera quando o telefone toca, temendo a notícia da morte de mais um amigo de juventude. Mas agradeço por estarem aqui. Se forem felizes, alcançarão minha idade, ou até mais. Do contrário, morrerão jovens, sem viver tudo que poderiam".
A plateia, em uníssono, ergueu-se em aplausos por longos minutos, tocada pela sabedoria de quem transformava a fragilidade em força. Recomendo que busquem O Tempo da Memória, coletânea de conferências de Bobbio prefaciada no Brasil por José Guilherme Merquior.
Essa história, esse convite à vida, é o que me move, aos 66 anos, a enfrentar o etarismo e celebrar a longevidade.
O etarismo, termo cunhado em 1969 por Robert Butler, é mais que um conceito; é uma violência que desvaloriza a experiência.
Em 24 de junho de 2025, a 3ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) manteve a condenação de um banco do Amapá ao pagamento de R$ 100 mil por etarismo. A funcionária foi chamada de “velha” e humilhada publicamente.
O etarismo não fere só um; apaga muitos, reforçando a ideia de que a juventude é sinônimo de competência e a velhice, de obsolescência. A longevidade, por outro lado, é uma revolução silenciosa.
No Brasil, a expectativa de vida saltou de 52 anos em 1960 para 77 hoje, com 34 milhões de idosos, 15% da população, segundo o IBGE.
No Canadá, com média de 82 anos, 19% são idosos, amparados por saúde pública robusta.
A China, com 78 anos, enfrenta um envelhecimento acelerado — 14% acima dos 65 — que pressiona sua economia.
Nos Estados Unidos, com 79 anos, desigualdades limitam a saúde para 17% de idosos.
A França, com 83 anos, brilha com políticas inclusivas, mas tensiona sua previdência com 20% de idosos.
Esses números são mais que dados; são vidas prolongadas, nem sempre respeitadas. O etarismo se infiltra em esferas que moldam a existência. No mercado de trabalho, 4 milhões de idosos brasileiros trabalham na informalidade, preteridos por estereótipos de “falta de inovação”. Planos de saúde impõem custos exorbitantes, enquanto a mídia retrata idosos como frágeis, ignorando sua vitalidade.
Na educação, iniciativas como o vestibular para maiores de 60 da UnB são raras; idosos são desencorajados, vistos como “deslocados”. No lazer, a falta de acessibilidade rouba sua alegria.
A OMS aponta que 1 em 6 idosos sofre violência etária globalmente. Isso não é sensibilidade exagerada; é exclusão sistêmica que nega a sabedoria acumulada. Leis tentam combater essa sombra. No Brasil, o Estatuto da Pessoa Idosa (2003) pune discriminação com até um ano de prisão. O Canadá protege via Canadian Human Rights Act, com reforços provinciais. A China, com sua lei de 2012, garante direitos, mas falha na aplicação. Nos EUA, o Age Discrimination in Employment Act (1967) ampara trabalhadores acima de 40, mas deixa brechas. A França promove inclusão com seu Código do Trabalho, mas enfrenta desafios previdenciários.
Leis são passos, mas a mudança exige coragem cultural.
Bobbio é minha bússola. Após os 65, ele escreveu Direita e Esquerda (1994), aos 85, e lecionou até os 90, provando que a mente não envelhece.
Cícero, em De Senectute (44 a.C.), também desafiou o etarismo, vendo a velhice como tempo de sabedoria, não de declínio. Desmond Tutu e Margaret Chan moldaram o mundo após os 65.
David Attenborough, aos 98 anos, inspira o mundo com seus documentários, como Planeta Azul e Nosso Planeta, mobilizando milhões a combater a crise climática com sua voz incansável pela preservação ambiental.
Yayoi Kusama, aos 96, lota museus; Fernanda Montenegro, aos 95, brilha no cinema; Warren Buffett, aos 95, lidera fortunas.
Eles mostram: a idade não limita, o preconceito sim.
A idade não enfraquece — revela.
O caso da funcionária humilhada expõe uma estrutura que descarta quem já entregou tanto. Desvalorizar a experiência é sabotar o futuro. O etarismo é um mecanismo de exclusão que se disfarça de eficiência.
Não importa a idade, viver com lucidez e propósito é resistência. Nada é mais alarmante que a indiferença diante de quem ainda está vivo, mas já não é visto.
https://www.brasil247.com/blog/a-indiferenca-que-cerca-quem-esta-vivo-mas-perdeu-o-lugar
18 de julho de 2025
Cuidadores invisíveis: a base esquecida do Brasil que envelhece
A figura do cuidador de idosos tornou-se indispensável em milhões de lares brasileiros.


Quando Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025, após derrotar Kamala Harris nas eleições de 5 de novembro de 2024, o mundo sentiu o peso de um déjà-vu turbulento. Seu retorno ao Salão Oval, quase uma década após seu primeiro mandato (2017-2021), reacendeu temores de rupturas na ordem global. O The New York Times, em editorial de 21 de janeiro de 2025, chamou sua volta de “um teste existencial à democracia e à cooperação internacional”, enquanto o Le Monde alertou em 22 de janeiro: “O multilateralismo está sob ataque, e Trump é o aríete.” Até 28 de março de 2025, os primeiros 68 dias de seu governo mostram sinais claros de sua agenda – protecionismo econômico, nacionalismo exacerbado e desprezo por instituições globais –, mas ainda é cedo para eventos concretos além de discursos e nomeações. Este artigo mergulha nos fatos verificáveis até hoje, analisa as implicações geopolíticas com dados estatísticos robustos e traz vozes como Noam Chomsky e Elon Musk para iluminar um planeta à beira do caos.
O Retorno de Trump: Um Golpe no Multilateralismo
Trump venceu com 51% dos votos populares (CNN, 6 de novembro de 2024), prometendo “colocar a América em primeiro lugar” e revisar acordos internacionais. Em seu primeiro mandato, ele retirou os EUA do Acordo de Paris (2017) e da OMS (2020), cortando US$ 893 milhões anuais em contribuições (OMS, 2020). Em 2024, ele chamou a ONU de “um clube de burocratas inúteis” durante um comício em Ohio, e seu discurso de posse em 20 de janeiro de 2025 reforçou: “Não vamos mais financiar organizações que nos sugam.” O Financial Times estimou em 15 de novembro de 2024 que os EUA, responsáveis por 22% do orçamento da ONU (US$ 3,4 bilhões em 2024), poderiam reduzir isso em 50%, esvaziando a organização.
A China, com PIB de US$ 18,5 trilhões em 2024 (FMI), cresce 4,8% ao ano, contra 2,2% dos EUA e 1,5% da UE (Banco Mundial). Ela já investiu US$ 1 trilhão na Iniciativa Cinturão e Rota desde 2013, conectando 140 países (Banco Mundial, 2023). Noam Chomsky, em entrevista à Truthout em 25 de outubro de 2023, alertou: “O isolacionismo de Trump é um presente à China, que está pronta para liderar onde os EUA recuam.” Yuval Noah Harari, em palestra na London School of Economics em 2023, complementou: “A ordem multilateral, já frágil, não sobreviverá a outra onda de unilateralismo americano.” O The Atlantic previu em 10 de fevereiro de 2025 que a saída de fundos americanos pode cortar 30% dos programas de paz da ONU, como os US$ 1,2 bilhão gastos em missões no Sudão do Sul (ONU, 2024).
Protecionismo Econômico: Tarifas e o Choque Global
Trump prometeu em 2024 tarifas de 20% sobre todas as importações e até 60% contra a China, revisitando sua guerra comercial de 2018-2020, quando impôs taxas de 25% sobre US$ 250 bilhões em bens chineses (USTR, 2020). O The Economist calculou em 12 de dezembro de 2024 que novas tarifas poderiam reduzir o PIB global em 0,8% (US$ 800 bilhões) em 2025, com os EUA perdendo US$ 200 bilhões devido a retaliações. A China, maior exportadora mundial com US$ 3,2 trilhões em 2024 (Banco Mundial), contra US$ 1,6 trilhão dos EUA, retaliou em 2018 com tarifas de 25% sobre soja americana, custando US$ 11 bilhões aos agricultores (USDA, 2019).
A UE, com exportações de US$ 2,3 trilhões, teme um impacto de US$ 50 bilhões, segundo o Financial Times (20 de janeiro de 2025). Jeff Bezos, em entrevista à Bloomberg em 14 de novembro de 2023, criticou: “Protecionalismo é um imposto disfarçado sobre os pobres – o comércio global nos deu prosperidade.” Elon Musk, apoiador de Trump, rebateu em tuíte de 15 de novembro de 2024: “Tarifas protegem empregos – a China joga sujo há décadas.” O Le Monde analisou em 25 de janeiro de 2025 que a Alemanha, com 8% de seu PIB (US$ 350 bilhões) vindo de exportações aos EUA, pode entrar em recessão se Trump agir. O Brasil, com exportações de US$ 280 bilhões (2024), já perdeu 10% em vendas de soja para a China desde 2018 (Ministério da Economia, 2023).
OTAN e Europa: Uma Aliança sob Pressão
Trump, desde 2016, critica a OTAN, chamando-a de “obsoleta” em entrevista à Times of London (15 de janeiro de 2017). Em 2024, ele ameaçou sair da aliança se os 31 membros não elevassem gastos militares a 2% do PIB. Em 2024, apenas 11 países atingiram essa meta (NATO, 2024), com gastos totais de US$ 1,2 trilhão – 67% (US$ 804 bilhões) dos EUA (SIPRI, 2024). O Der Spiegel relatou em 22 de janeiro de 2025 que a Europa precisaria de US$ 300 bilhões extras para substituir os EUA, algo inviável com crescimento de 1,5% (Eurostat, 2024). Olaf Scholz, em discurso em 2022, disse: “A OTAN é nossa âncora – perdê-la é um desastre.” Bernie Sanders, em comício em Vermont em 15 de setembro de 2023, alertou: “Trump quer destruir a OTAN, entregando a Europa a Putin.”
A Rússia, com orçamento militar de US$ 86 bilhões (SIPRI, 2024), pressiona a Ucrânia, enquanto a China, com US$ 230 bilhões, expande sua presença no Indo-Pacífico. O Financial Times estimou em 10 de fevereiro de 2025 que um enfraquecimento da OTAN pode custar à UE 2% de seu PIB (US$ 360 bilhões) em segurança e comércio.
Ucrânia e Rússia: Um Frágil Equilíbrio
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, matou mais de 40.000 civis (ONU, 2024) e deslocou 14 milhões (UNHCR, 2024). Os EUA forneceram US$ 175 bilhões em ajuda desde então (Departamento de Defesa, 2024), mas Trump, em 2024, disse em comício em Iowa: “Posso acabar essa guerra em 24 horas.” O The Atlantic sugeriu em 5 de fevereiro de 2025 que ele pode pressionar Kiev a ceder territórios ocupados (18% da Ucrânia, segundo o Instituto de Estudos de Guerra, 2024). J.D. Vance, vice-presidente eleito, declarou em entrevista à Fox News em 10 de outubro de 2024: “A Ucrânia não vale nosso dinheiro – temos problemas em casa.” Yuval Noah Harari, em 21 Lessons for the 21st Century (2018), escreveu: “Conflitos como esse expõem a impotência da ordem global.”
Imigração: Economia em Risco, Medo nas Ruas
Trump prometeu em 2024 “a maior deportação da história”, mirando 11 milhões de indocumentados (Pew Research, 2023). O Time estimou em 2023 que imigrantes contribuem com US$ 1,6 trilhão ao PIB anual dos EUA, incluindo 60% da força agrícola (USDA, 2024). Um estudo da American Immigration Council (2022) mostrou que deportações em massa poderiam custar US$ 1 trilhão em dez anos. Justin Trudeau, em discurso de 2021, disse: “Imigrantes são o coração de nossas economias.” Bernie Sanders, em 2020, afirmou em entrevista à NPR: “Deportar milhões é cruel e vai quebrar nossa economia.” Noam Chomsky, em Who Rules the World? (2016), escreveu: “A xenofobia de Trump é uma arma contra os mais vulneráveis e contra nós mesmos.”
Big Tech e Imprensa: Poder e Polarização
Elon Musk doou US$ 50 milhões a um PAC pró-Trump em 2024 (The Guardian, 15 de outubro), enquanto Jeff Bezos, dono do Washington Post, disse em 2016: “Trump é uma ameaça à liberdade de imprensa” (CNN, 2016). O The Atlantic alertou em 10 de janeiro de 2025 que a Fox News, com 50 milhões de espectadores semanais (Nielsen, 2024), amplifica a agenda de Trump. Musk tuitou em 2023: “A mídia tradicional morreu – a verdade está nas redes.” J.D. Vance, em 2024, disse à Newsmax: “Big Tech e Trump são aliados naturais contra o establishment.”
Análise das Implicações da Cena Mundial
China: A nova hegemonia
A China, com exportações de US$ 3,2 trilhões e reservas de US$ 3,3 trilhões (Banco Mundial, 2024), supera os EUA (exportações de US$ 1,6 trilhão). O Financial Times prevê em 2025 que ela dominará manufatura até 2030, com 40% da produção global (UNCTAD, 2024). Musk, em 2023, tuitou: “A China está anos à frente – acordem.”
Ordem Mundial: Um Sistema em Ruínas
A ONU, com orçamento de US$ 3,4 bilhões, perdeu 15% de fundos dos EUA desde 2017 (ONU, 2024). Harari, em palestra de 2023, disse: “Sem cooperação, enfrentaremos colapso climático e guerras.” O The Guardian relatou em 2024 que a extrema direita ganhou 20% mais votos na Europa desde 2019, com partidos como o AfD (Alemanha) e RN (França) crescendo.
Direitos Humanos: Um Luxo em Extinção
A Human Rights Watch (2024) alertou que cortes em ajuda externa dos EUA (US$ 40 bilhões em 2020) enfraquecem direitos globais. Bezos, em 2022, disse à Bloomberg: “O populismo sufoca a empatia.”
Os ecos de “A Era da Insensatez” ressoam nas páginas de Galbraith e Hobsbawm, mestres em capturar tempos de ruptura. Em “A Era da Incerteza”, Galbraith destruiu a instabilidade do século XX, como a Grande Depressão, que derrubou o PIB dos EUA em 25% (Bureau of Economic Analysis), um mundo em crise refletido hoje no isolacionismo de Trump em 2025. Hobsbawm, em “A Era dos Extremos”, narra os 60 milhões de mortos nas guerras mundiais (ONU, 2020), enquanto “A Era do Capital” e “A Era das Revoluções” mostra revoluções que abalaram monarquias e ergueram o capitalismo. O retorno de Trump, com a China crescendo 4,8% ao ano (FMI, 2024), sinalizando uma nova tormenta global.
A queda de velhos sistemas conecta histórias ao caos de hoje. Hobsbawm viu o fim do comunismo em 1991 e das monarquias em 1848, com o imperialismo como força caótica. Galbraith, na incerteza do capitalismo, notou a desigualdade americana saltando de 0,35 para 0,41 no índice Gini (Census Bureau, 1970-1977). Hoje, a ordem multilateral pós-1945 rui: a ONU perdeu 15% dos fundos dos EUA desde 2017 (ONU, 2024), e a extrema direita na Europa ganhou 20% mais votos desde 2019 ( The Guardian). Trump, cortando US$ 893 milhões da OMS em 2020, acelera esse desequilíbrio.
A insensatez humana é o fio condutor. Galbraith critica a fé cega no mercado; Hobsbawm, uma ganância que deslocou 50 milhões em 1848-1875. Trump repete o padrão: tarifas de 2018 custaram US$ 11 bilhões (USDA), e sua xenofobia ameaça 11 milhões de imigrantes (Pew, 2023). É um eco das escolhas que Hobsbawm ligaria às guerras mundiais.
Por fim, todos veem o poder global em xeque. Hobsbawm traçou a industrialização e o colapso soviético; Galbraith, a economia em mutação. “A Era da Insensatez” mostra a China, com US$ 3,2 trilhões em exportações (Banco Mundial, 2024), desafiando um EUA que recua – um prenúncio de viradas históricas.
Desde 20 de janeiro de 2025, Trump acendeu o pavio de um mundo em frangalhos. Seus 68 dias iniciais não são apenas ecos de promessas e histórico, mas sirenes de rupturas que nos encaram. Esta era da insensatez, um quebra-cabeça de escolhas tresloucadas, só ganhará contornos claros quando os historiadores, com o luxo do tempo, decifrarem suas cicatrizes. As declarações gritaram: a ordem mundial, essa colcha de retalhos defeituosa, desmorona enquanto a ONU se esvaziava, a extrema direita floresce em França e no Brasil, e os direitos humanos viram relíquia empoeirada. Tudo o que fere a parte, sangra o todo.
Mas não nos enganemos: o preço dessa temeridade não será uma mera ressaca histórica. Estamos flertando com uma nova idade das trevas – não de castelos e pestes, mas de drones assassinos, cadeias econômicas em colapso e um planeta sufocado por suas próprias febres.
A questão não é se a conta virá, mas até onde deixaremos o saldo escalar. A ordem vigente, cambaleante em convulsões, é um castelo de cartas à beira do vento. Como já se profetizou em meados do século XIX, “quando uma estrutura falha, ela é descartada, e uma nova tomará seu lugar”. Resta saber: que mundo ousaremos construir das cinzas dessa insensatez?
https://www.brasil247.com/blog/se-a-incerteza-era-um-problema-a-insensatez-e-a-tragedia
24 de abril de 2025
Se a incerteza era um problema, a insensatez é a tragédia
A questão não é se a conta virá, mas até onde deixaremos o saldo escalar.


Quando Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025, após derrotar Kamala Harris nas eleições de 5 de novembro de 2024, o mundo sentiu o peso de um déjà-vu turbulento. Seu retorno ao Salão Oval, quase uma década após seu primeiro mandato (2017-2021), reacendeu temores de rupturas na ordem global. O The New York Times, em editorial de 21 de janeiro de 2025, chamou sua volta de “um teste existencial à democracia e à cooperação internacional”, enquanto o Le Monde alertou em 22 de janeiro: “O multilateralismo está sob ataque, e Trump é o aríete.” Até 28 de março de 2025, os primeiros 68 dias de seu governo mostram sinais claros de sua agenda – protecionismo econômico, nacionalismo exacerbado e desprezo por instituições globais –, mas ainda é cedo para eventos concretos além de discursos e nomeações. Este artigo mergulha nos fatos verificáveis até hoje, analisa as implicações geopolíticas com dados estatísticos robustos e traz vozes como Noam Chomsky e Elon Musk para iluminar um planeta à beira do caos.
O Retorno de Trump: Um Golpe no Multilateralismo
Trump venceu com 51% dos votos populares (CNN, 6 de novembro de 2024), prometendo “colocar a América em primeiro lugar” e revisar acordos internacionais. Em seu primeiro mandato, ele retirou os EUA do Acordo de Paris (2017) e da OMS (2020), cortando US$ 893 milhões anuais em contribuições (OMS, 2020). Em 2024, ele chamou a ONU de “um clube de burocratas inúteis” durante um comício em Ohio, e seu discurso de posse em 20 de janeiro de 2025 reforçou: “Não vamos mais financiar organizações que nos sugam.” O Financial Times estimou em 15 de novembro de 2024 que os EUA, responsáveis por 22% do orçamento da ONU (US$ 3,4 bilhões em 2024), poderiam reduzir isso em 50%, esvaziando a organização.
A China, com PIB de US$ 18,5 trilhões em 2024 (FMI), cresce 4,8% ao ano, contra 2,2% dos EUA e 1,5% da UE (Banco Mundial). Ela já investiu US$ 1 trilhão na Iniciativa Cinturão e Rota desde 2013, conectando 140 países (Banco Mundial, 2023). Noam Chomsky, em entrevista à Truthout em 25 de outubro de 2023, alertou: “O isolacionismo de Trump é um presente à China, que está pronta para liderar onde os EUA recuam.” Yuval Noah Harari, em palestra na London School of Economics em 2023, complementou: “A ordem multilateral, já frágil, não sobreviverá a outra onda de unilateralismo americano.” O The Atlantic previu em 10 de fevereiro de 2025 que a saída de fundos americanos pode cortar 30% dos programas de paz da ONU, como os US$ 1,2 bilhão gastos em missões no Sudão do Sul (ONU, 2024).
Protecionismo Econômico: Tarifas e o Choque Global
Trump prometeu em 2024 tarifas de 20% sobre todas as importações e até 60% contra a China, revisitando sua guerra comercial de 2018-2020, quando impôs taxas de 25% sobre US$ 250 bilhões em bens chineses (USTR, 2020). O The Economist calculou em 12 de dezembro de 2024 que novas tarifas poderiam reduzir o PIB global em 0,8% (US$ 800 bilhões) em 2025, com os EUA perdendo US$ 200 bilhões devido a retaliações. A China, maior exportadora mundial com US$ 3,2 trilhões em 2024 (Banco Mundial), contra US$ 1,6 trilhão dos EUA, retaliou em 2018 com tarifas de 25% sobre soja americana, custando US$ 11 bilhões aos agricultores (USDA, 2019).
A UE, com exportações de US$ 2,3 trilhões, teme um impacto de US$ 50 bilhões, segundo o Financial Times (20 de janeiro de 2025). Jeff Bezos, em entrevista à Bloomberg em 14 de novembro de 2023, criticou: “Protecionalismo é um imposto disfarçado sobre os pobres – o comércio global nos deu prosperidade.” Elon Musk, apoiador de Trump, rebateu em tuíte de 15 de novembro de 2024: “Tarifas protegem empregos – a China joga sujo há décadas.” O Le Monde analisou em 25 de janeiro de 2025 que a Alemanha, com 8% de seu PIB (US$ 350 bilhões) vindo de exportações aos EUA, pode entrar em recessão se Trump agir. O Brasil, com exportações de US$ 280 bilhões (2024), já perdeu 10% em vendas de soja para a China desde 2018 (Ministério da Economia, 2023).
OTAN e Europa: Uma Aliança sob Pressão
Trump, desde 2016, critica a OTAN, chamando-a de “obsoleta” em entrevista à Times of London (15 de janeiro de 2017). Em 2024, ele ameaçou sair da aliança se os 31 membros não elevassem gastos militares a 2% do PIB. Em 2024, apenas 11 países atingiram essa meta (NATO, 2024), com gastos totais de US$ 1,2 trilhão – 67% (US$ 804 bilhões) dos EUA (SIPRI, 2024). O Der Spiegel relatou em 22 de janeiro de 2025 que a Europa precisaria de US$ 300 bilhões extras para substituir os EUA, algo inviável com crescimento de 1,5% (Eurostat, 2024). Olaf Scholz, em discurso em 2022, disse: “A OTAN é nossa âncora – perdê-la é um desastre.” Bernie Sanders, em comício em Vermont em 15 de setembro de 2023, alertou: “Trump quer destruir a OTAN, entregando a Europa a Putin.”
A Rússia, com orçamento militar de US$ 86 bilhões (SIPRI, 2024), pressiona a Ucrânia, enquanto a China, com US$ 230 bilhões, expande sua presença no Indo-Pacífico. O Financial Times estimou em 10 de fevereiro de 2025 que um enfraquecimento da OTAN pode custar à UE 2% de seu PIB (US$ 360 bilhões) em segurança e comércio.
Ucrânia e Rússia: Um Frágil Equilíbrio
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, matou mais de 40.000 civis (ONU, 2024) e deslocou 14 milhões (UNHCR, 2024). Os EUA forneceram US$ 175 bilhões em ajuda desde então (Departamento de Defesa, 2024), mas Trump, em 2024, disse em comício em Iowa: “Posso acabar essa guerra em 24 horas.” O The Atlantic sugeriu em 5 de fevereiro de 2025 que ele pode pressionar Kiev a ceder territórios ocupados (18% da Ucrânia, segundo o Instituto de Estudos de Guerra, 2024). J.D. Vance, vice-presidente eleito, declarou em entrevista à Fox News em 10 de outubro de 2024: “A Ucrânia não vale nosso dinheiro – temos problemas em casa.” Yuval Noah Harari, em 21 Lessons for the 21st Century (2018), escreveu: “Conflitos como esse expõem a impotência da ordem global.”
Imigração: Economia em Risco, Medo nas Ruas
Trump prometeu em 2024 “a maior deportação da história”, mirando 11 milhões de indocumentados (Pew Research, 2023). O Time estimou em 2023 que imigrantes contribuem com US$ 1,6 trilhão ao PIB anual dos EUA, incluindo 60% da força agrícola (USDA, 2024). Um estudo da American Immigration Council (2022) mostrou que deportações em massa poderiam custar US$ 1 trilhão em dez anos. Justin Trudeau, em discurso de 2021, disse: “Imigrantes são o coração de nossas economias.” Bernie Sanders, em 2020, afirmou em entrevista à NPR: “Deportar milhões é cruel e vai quebrar nossa economia.” Noam Chomsky, em Who Rules the World? (2016), escreveu: “A xenofobia de Trump é uma arma contra os mais vulneráveis e contra nós mesmos.”
Big Tech e Imprensa: Poder e Polarização
Elon Musk doou US$ 50 milhões a um PAC pró-Trump em 2024 (The Guardian, 15 de outubro), enquanto Jeff Bezos, dono do Washington Post, disse em 2016: “Trump é uma ameaça à liberdade de imprensa” (CNN, 2016). O The Atlantic alertou em 10 de janeiro de 2025 que a Fox News, com 50 milhões de espectadores semanais (Nielsen, 2024), amplifica a agenda de Trump. Musk tuitou em 2023: “A mídia tradicional morreu – a verdade está nas redes.” J.D. Vance, em 2024, disse à Newsmax: “Big Tech e Trump são aliados naturais contra o establishment.”
Análise das Implicações da Cena Mundial
China: A nova hegemonia
A China, com exportações de US$ 3,2 trilhões e reservas de US$ 3,3 trilhões (Banco Mundial, 2024), supera os EUA (exportações de US$ 1,6 trilhão). O Financial Times prevê em 2025 que ela dominará manufatura até 2030, com 40% da produção global (UNCTAD, 2024). Musk, em 2023, tuitou: “A China está anos à frente – acordem.”
Ordem Mundial: Um Sistema em Ruínas
A ONU, com orçamento de US$ 3,4 bilhões, perdeu 15% de fundos dos EUA desde 2017 (ONU, 2024). Harari, em palestra de 2023, disse: “Sem cooperação, enfrentaremos colapso climático e guerras.” O The Guardian relatou em 2024 que a extrema direita ganhou 20% mais votos na Europa desde 2019, com partidos como o AfD (Alemanha) e RN (França) crescendo.
Direitos Humanos: Um Luxo em Extinção
A Human Rights Watch (2024) alertou que cortes em ajuda externa dos EUA (US$ 40 bilhões em 2020) enfraquecem direitos globais. Bezos, em 2022, disse à Bloomberg: “O populismo sufoca a empatia.”
Os ecos de “A Era da Insensatez” ressoam nas páginas de Galbraith e Hobsbawm, mestres em capturar tempos de ruptura. Em “A Era da Incerteza”, Galbraith destruiu a instabilidade do século XX, como a Grande Depressão, que derrubou o PIB dos EUA em 25% (Bureau of Economic Analysis), um mundo em crise refletido hoje no isolacionismo de Trump em 2025. Hobsbawm, em “A Era dos Extremos”, narra os 60 milhões de mortos nas guerras mundiais (ONU, 2020), enquanto “A Era do Capital” e “A Era das Revoluções” mostra revoluções que abalaram monarquias e ergueram o capitalismo. O retorno de Trump, com a China crescendo 4,8% ao ano (FMI, 2024), sinalizando uma nova tormenta global.
A queda de velhos sistemas conecta histórias ao caos de hoje. Hobsbawm viu o fim do comunismo em 1991 e das monarquias em 1848, com o imperialismo como força caótica. Galbraith, na incerteza do capitalismo, notou a desigualdade americana saltando de 0,35 para 0,41 no índice Gini (Census Bureau, 1970-1977). Hoje, a ordem multilateral pós-1945 rui: a ONU perdeu 15% dos fundos dos EUA desde 2017 (ONU, 2024), e a extrema direita na Europa ganhou 20% mais votos desde 2019 ( The Guardian). Trump, cortando US$ 893 milhões da OMS em 2020, acelera esse desequilíbrio.
A insensatez humana é o fio condutor. Galbraith critica a fé cega no mercado; Hobsbawm, uma ganância que deslocou 50 milhões em 1848-1875. Trump repete o padrão: tarifas de 2018 custaram US$ 11 bilhões (USDA), e sua xenofobia ameaça 11 milhões de imigrantes (Pew, 2023). É um eco das escolhas que Hobsbawm ligaria às guerras mundiais.
Por fim, todos veem o poder global em xeque. Hobsbawm traçou a industrialização e o colapso soviético; Galbraith, a economia em mutação. “A Era da Insensatez” mostra a China, com US$ 3,2 trilhões em exportações (Banco Mundial, 2024), desafiando um EUA que recua – um prenúncio de viradas históricas.
Desde 20 de janeiro de 2025, Trump acendeu o pavio de um mundo em frangalhos. Seus 68 dias iniciais não são apenas ecos de promessas e histórico, mas sirenes de rupturas que nos encaram. Esta era da insensatez, um quebra-cabeça de escolhas tresloucadas, só ganhará contornos claros quando os historiadores, com o luxo do tempo, decifrarem suas cicatrizes. As declarações gritaram: a ordem mundial, essa colcha de retalhos defeituosa, desmorona enquanto a ONU se esvaziava, a extrema direita floresce em França e no Brasil, e os direitos humanos viram relíquia empoeirada. Tudo o que fere a parte, sangra o todo.
Mas não nos enganemos: o preço dessa temeridade não será uma mera ressaca histórica. Estamos flertando com uma nova idade das trevas – não de castelos e pestes, mas de drones assassinos, cadeias econômicas em colapso e um planeta sufocado por suas próprias febres.
A questão não é se a conta virá, mas até onde deixaremos o saldo escalar. A ordem vigente, cambaleante em convulsões, é um castelo de cartas à beira do vento. Como já se profetizou em meados do século XIX, “quando uma estrutura falha, ela é descartada, e uma nova tomará seu lugar”. Resta saber: que mundo ousaremos construir das cinzas dessa insensatez?
https://www.brasil247.com/blog/se-a-incerteza-era-um-problema-a-insensatez-e-a-tragedia
29 de março de 2025
Obsolescência programada: o segredo sujo das empresas
A obsolescência programada não apenas mudou a forma como os produtos são feitos, mas também como as pessoas consomem


A durabilidade dos produtos que utilizamos diariamente é uma questão de crescente preocupação, tanto para os consumidores quanto para o meio ambiente. Historicamente, práticas como a obsolescência programada têm sido adotadas por empresas para reduzir a vida útil dos produtos, incentivando o consumo contínuo. Essa estratégia, que começou como uma decisão empresarial no início do século XX, transformou-se em uma prática global com impactos profundos na economia, na sociedade e no meio ambiente.
A obsolescência programada não surgiu por acaso; foi uma decisão calculada por empresas que buscavam maximizar lucros em um mercado saturado. Um dos exemplos mais emblemáticos é o Cartel Phoebus, formado em 1924 por grandes fabricantes de lâmpadas, incluindo a General Electric, a Philips e a Osram. O cartel estabeleceu um acordo para limitar a vida útil das lâmpadas a 1.000 horas, reduzindo drasticamente a durabilidade de produtos que antes duravam 2.500 horas. O objetivo era claro: aumentar as vendas ao garantir que os consumidores precisassem substituir suas lâmpadas com mais frequência.
Essa prática não se limitou ao setor de iluminação. Na década de 1920, a General Motors introduziu a obsolescência de estilo, lançando novos modelos de carros a cada ano com pequenas alterações estéticas, mas sem melhorias significativas no desempenho. Alfred Sloan Jr., presidente da empresa na época, afirmou que a estratégia era "vender mais carros, não melhores carros". Essa abordagem foi rapidamente adotada por outras indústrias, consolidando a obsolescência programada como uma norma no sistema capitalista.
Hoje, a obsolescência programada está presente em praticamente todos os setores, desde eletrônicos até vestuário. Um dos exemplos mais recentes e controversos é o das atualizações de software que deliberadamente reduzem o desempenho de dispositivos eletrônicos. Em 2017, a Apple admitiu que desacelerava iPhones mais antigos para "preservar a vida útil da bateria". A empresa foi multada em €25 milhões na França por não informar os consumidores sobre essa prática.
Outro exemplo é o dos fones de ouvido sem fio, como os AirPods da Apple, que possuem baterias não substituíveis. Quando a bateria se esgota após 2 a 3 anos, o consumidor é forçado a comprar um novo par, gerando mais resíduos eletrônicos. Segundo a ONU, o mundo produz 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano, e apenas 20% são reciclados.
A obsolescência programada não apenas mudou a forma como os produtos são feitos, mas também como as pessoas consomem. No passado, os produtos eram projetados para durar. Por exemplo:
- Lâmpadas: No início do século XX, as lâmpadas duravam até 2.500 horas. Após o Cartel Phoebus, essa duração foi reduzida para 1.000 horas.
- Automóveis: Nos anos 1950, um carro durava em média 20 anos. Hoje, a vida útil média de um veículo é de 8 a 12 anos, segundo a IHS Markit.
- Eletrodomésticos: Geladeiras e lavadoras modernas têm uma vida útil média de 7 a 10 anos, enquanto nos anos 1970 esses aparelhos duravam até 25 anos.
Essa redução na durabilidade não é coincidência; é o resultado de decisões empresariais que priorizam o lucro em detrimento da sustentabilidade.
Impactos da Obsolescência Programada
A obsolescência programada tem impactos significativos em várias áreas:
Ambiental: A produção e o descarte frequente de produtos geram resíduos e aumentam a pegada de carbono. Segundo a Ellen MacArthur Foundation, a indústria da moda é responsável por 10% das emissões globais de CO2, em grande parte devido à moda rápida (fast fashion), que produz roupas com tecidos de baixa qualidade que duram apenas 10 a 20 lavagens.
Econômico: Os consumidores gastam mais ao substituir produtos com frequência. Por exemplo, os americanos trocam de smartphone a cada 21,7 meses, segundo a Electronic Recyclers International.
Social: A obsolescência programada alimenta uma cultura de consumo insustentável, onde o valor de um produto está mais em sua novidade do que em sua utilidade. Uma pesquisa da Harris revelou que 74% dos estadunidenses estão constantemente em busca de novas oportunidades, refletindo uma sociedade insatisfeita e sempre em busca do próximo "grande lançamento".
Benefícios de Produtos Duráveis
A adoção de produtos mais duráveis oferece benefícios significativos:
1. Redução de Resíduos Eletrônicos:
Produtos com maior vida útil diminuem a quantidade de lixo eletrônico, que atualmente atinge 50 milhões de toneladas anuais.
2. Economia Financeira:
Consumidores economizam ao não precisar substituir produtos com frequência.
3. Preservação de Recursos Naturais:
Menos produção implica em menor extração de matérias-primas, preservando o meio ambiente.
4. Redução de Emissões de Carbono:
A fabricação e o transporte de novos produtos aumentam a pegada de carbono; produtos duráveis mitigam esse impacto.
5. Fortalecimento da Confiança do Consumidor:
Marcas que oferecem produtos duráveis conquistam maior lealdade dos clientes.
6. Valorização do Mercado de Reparos:
Produtos reparáveis fomentam a economia local e criam empregos no setor de manutenção.
7. Educação para o Consumo Consciente:
Incentiva-se uma cultura de valorização e cuidado com os bens adquiridos.
8. Inovação Sustentável:
Empresas são motivadas a desenvolver tecnologias que aumentem a durabilidade sem comprometer a eficiência.
9. Competitividade no Mercado:
Marcas que priorizam a durabilidade destacam-se positivamente perante consumidores conscientes.
10. Contribuição para a Economia Circular:
Produtos duráveis e reparáveis facilitam a reutilização e reciclagem, promovendo um ciclo de vida mais sustentável.
Felizmente, algumas empresas estão desafiando a obsolescência programada e promovendo a sustentabilidade, mostrando que é possível compensar o ciclo de vida dos produtos sem sacrificar a qualidade ou o lucro. A Patagônia, por exemplo, é uma marca de roupas outdoor que se destaca por sua iniciativa “Worn Wear”, que incentiva os consumidores a reparar, reutilizar e reciclar suas peças, prolongando a vida útil das roupas e reduzindo o impacto ambiental da indústria da moda, responsável por 10% das emissões globais de CO2, segundo a Ellen MacArthur Foundation.
Outro exemplo é a Fairphone, que produz smartphones modulares e reparáveis, com baterias substituíveis e materiais éticos, permitindo que os usuários atualizem ou consertem seus dispositivos facilmente, o que reduz a geração de lixo eletrônico — um problema que atinge 50 milhões de toneladas anuais, conforme dados da ONU. Além disso, a Epson, conhecida por seus equipamentos de impressão, é dinâmica a linha EcoTank, com tanques de tinta recarregáveis que diminuem o desperdício de cartuchos e os custos a longo prazo, proporcionando uma alternativa mais durável e econômica para os consumidores. Esses exemplos demonstram que é possível aliar lucratividade à responsabilidade ambiental, oferecendo aos consumidores produtos de qualidade que não apenas atendem às suas necessidades, mas também reduzidos para a preservação do planeta e para a construção de uma economia mais circular.
A obsolescência programada é um fenômeno complexo que reflete as dinâmicas do capitalismo moderno, onde a busca incessante por transformação de produtos em especial, enquanto os consumidores e o meio ambiente arcam com as consequências. As empresas lucraram bilhões ao reduzir especificamente a vida útil de bens, como lâmpadas que duram menos ou smartphones que se tornam obsoletos em poucos anos, alimentando uma cultura de consumo insustentável que gera 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico anualmente, segundo a ONU. No entanto, com consciência e mudanças de comportamento, é possível desafiar essa lógica e promover um modelo de consumo mais sustentável e ético, começando pelo reconhecimento do problema e pela ação responsável dos consumidores e cidadãos.
Esse estado de coisas é ainda mais aterrador porque a cultura do controle transcendeu os bens materiais e se infiltrou nas relações humanas. Nas últimas três décadas, não apenas produtos foram projetados para serem aplicados por decisões empresariais pautadas na gestão e na sede de consumo, mas também os vínculos interpessoais passaram a ser tratados com a mesma lógica de efemeridade. Casou? Sim. Está dando certo? Não muito. Qual a próxima fase? Me separar e partir para outro. Esse tipo de diálogo, que pode parecer familiar a muitos, reflete como a mentalidade do "usar e descartar" se estende às relações, refletindo a mesma falta de valorização e durabilidade que vemos em bens de consumo.
Assim como uma geladeira dos anos 1970 durou 25 anos e hoje mal chega aos 10, os relacionamentos humanos também parecem ter perdido a ênfase na construção e na manutenção, sendo frequentemente substituídos em busca de algo novo, mais conveniente ou menos desafiador, o que levanta uma questão preocupante: até que ponto a lógica do equilíbrio moldará o futuro das nossas conexões humanas?
https://www.brasil247.com/blog/obsolescencia-programada-o-segredo-sujo-das-empresas
27 de março de 2025
Que em 2016 seja realidade no Brasil o Imposto sobre Grandes Fortunas
Longe de ser "mais um" imposto, o IGF poderia estipular parâmetros visando excluir com robusta folga as classes média e média alta, como também um conjunto de famílias que podem ser consideradas ricas, mas não milionárias


A ordem do dia é ouvir o clamor das ruas. A presidenta Dilma Rousseff diz que ouviu e vem pontuando gestos, atitudes e ações em consonância com o que se escuta do meio-fio.
Por enquanto, dois gritos ainda não tomaram forma de gritos unânimes por mudanças: a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) e a regulamentação que trata da democratização dos meios de comunicação.
Longe de ser "mais um" imposto, o IGF poderia estipular parâmetros visando excluir com robusta folga as classes média e média alta, como também um conjunto de famílias que podem ser consideradas ricas, mas não milionárias. A regulamentação do IGF pode definir com clareza cristalina que sua incidência atinja tão somente aqueles que apresentam grandes fortunas, estimados em cerca de 10 mil famílias e, principalmente, dentro desse universo de contribuintes, as cinco mil famílias que teriam um patrimônio equivalente a 40% do PIB.
A colocação da tributação da riqueza novamente na agenda política nacional reflete a tomada de consciência gradativa de que as iniqüidades geradas pela adoção de políticas que glorificam o Deus-Mercado, acentuadamente de extrações neoliberais, nas últimas décadas, agora se defrontam com o clamor crescente das ruas.
A cobrança de imposto sobre grandes fortunas, prevista no artigo 153 da Constituição de 1988 e nunca regulamentada, voltou ao debate nacional após as manifestações de rua exigindo melhorias na qualidade de vida da população.
É uma demanda antiga. E nunca conseguiu eficácia por sempre esbarrar nos velhos corporativismos:
- A classe política não tem interesse em regulamentar porque, quando não alcançaria boa parte da riqueza dos senhores parlamentares e chefes dos executivos estaduais e municipais, abocanharia parte dos rendimentos dos empresários que em grande medida financiam as campanhas políticas no país ao longo de sua história. Constatação: os titulares de grandes fortunas, se não estão investidos de poder, possuem inegável influência sobre os que exercem.
- Os meios de comunicação, dentre estes, aqueles com maior audiência televisiva e maior número de tiragem impressa – revistas e jornais – nunca demonstraram permeabilidade ao reclame da sociedade por uma singela motivação – qual seja, dado o grau de extrema concentração da propriedade dos veículos de comunicação (canais de tevê, canais de tevê a cabo, revistas semanais, jornais diários, emissoras de rádio, e portais na Internet), eles próprios integrariam um público-alvo de 907 indivíduos e empresas que detêm patrimônio igual ou superior a R$ 150.000.000,00 e, além de levar a própria carne ao corte, iria contrariar frontalmente interesses de suas principais fontes de receita publicitária, o cobiçado mercado publicitário, que inclui conglomerados financeiros, grupos econômicos transnacionais diversos. indústria da construção civil, agronegócio, segmento automotivo;
- Os principais nós a serem desatados tem a ver com a definição para "grande fortuna", a base de cálculo e a alíquota por faixa de riqueza patrimonial.
É fato que se trata de um imposto de grande impacto para a realização de justiça social no Brasil, pois sua existência e regulação possibilita a redistribuição de renda em favor dos segmentos da população mais vulneráveis social e economicamente.
A própria inclusão deste artigo em nossa Constituição Cidadã de 1988 está colocada de forma cristalina e assertiva nos Atos e Disposições Constitucionais Transitórias que, em seu art. 80, inciso III, estipula:
"Art. 80. Compõem o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza:
[...] III – o produto da arrecadação do imposto de que trata o Art. 153, inciso VII, da Constituição".
A discussão e também a adoção do Imposto sobre Grandes Fortunas não é nossa primazia nem possui o ineditismo da nossa jabuticaba. Com o chamado Éden do capitalismo mundial em crise acentuada, o fato é que a tributação sobre grandes fortunas voltou à agenda de discussão dos povos de que nunca o adotaram, como os EUA, ou em países que o revogaram e agora discutem sua reintrodução, como a Alemanha.
Existe em alguns países, como os Estados Unidos e alguns países europeus. No exterior, tem sido comum que este IGF passa a ser exigido apenas sobre os ganhos auferidos no ano, enquanto que no Brasil todos os debates apontam para a necessidade de se regulamentar o IGF de forma a que este incidiria sobre a totalidade do patrimônio dos indivíduos.
A fragilidade argumentativa dos que se opõem ao IGF é gritante:
- a sonegação fiscal no Brasil seria incentivada, ao fazer com que contribuintes não declarassem seu patrimônio por receio do imposto;
- seria uma forma de o governo criar mais um imposto, diminuindo o patrimônio dos contribuintes, sem garantias que o dinheiro seria usado diretamente na saúde (como a CPMF também não era integralmente aplicada na saúde);
- seria injusto optar por incidir sobre a totalidade do patrimônio já acumulado, algo que atingiria indivíduos que já haviam pagado todos os impostos para sua acumulação.
A contraargumentação parece-nos sólida, robusta. E madura. Se não, vejamos:
- sonegadores contumazes existirão sempre, assim como existem os sonegadores habituais do Imposto de Renda, portanto, com a criação do IGF neste momento, a Receita Federal detêm todos os meios necessários para acessar dados e cifras do patrimônio real de cada brasileiro, de forma estabilizada, mas ainda assim, parece-nos óbvio que os donos de grandes fortunas a serem tributados - e que viessem a sonegar o pagamento do IGF - há muito vêm sonegando também o Imposto de Renda; portanto, a existência ou não do IGF teria impacto nulo no aspecto sonegação fiscal;
- inferir que a existência de um imposto – qualquer que seja - tenha relação direta com sua correta aplicação é não mais que diversionismo tosco e instrumentos de fiscalização precisam ser aprimorados - ou criados - para assegurar a aplicação dos recursos de acordo com o que prevê o texto constitucional; no caso do IGF seriam aplicados para fortalecer políticas públicas de erradicação da pobreza.
- não seria injusto, sob quaisquer aspectos, que o IGF incida sobre o patrimônio acumulado do indivíduo e não sobre os ganhos anuais destes, porque é até do conhecimento vegetal a falta de lisura, a corrupção e o mau uso do próprio poder econômico visando auferir e acumular ao longo do tempo tanto ganhos de capital quanto ganhos patrimoniais.
Economistas e tributaristas informam que caso seja criado esse imposto o país terá aporte adicional de, pelo menos, R$ 14 bilhões, dinheirama que poderia ser facilmente direcionado para a saúde. E recursos que viriam, em grande parte, de apenas 907 contribuintes com patrimônio superior a R$150 milhões.
Resta saber se a imprensa que tanto se diz alinhada na missão de amplificar o grito das ruas, estádios, avenidas, praças e também das redes sociais, estaria disposta a encampar em sua seletiva agenda noticiosa a criação do IGF, assim como fez com a demanda por uma reforma política e o arquivamento da PEC 37/2013.
Caso nossos principais defensores da liberdade de expressão, guardiães autonomeados da liberdade de imprensa, optem por uma sintonia realmente fina com os anseios populares, logo nos habituaremos a ver a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas nas capas da revista Veja, carro-chefe do conservadorismo; matérias alentadas na revista Época; editoriais inflamados nos jornais O Globo, Folha de S.Paulo e o Estado de São Paulo. E também, não ficaremos surpresos se ao mudarmos de canal de tevê em uma tarde de domingo qualquer nos depararmos com a voz rouqenha e os olhos esbugalhados do global Faustão clamando pela imediata existência do Imposto Robin Hood. E daí será um passo para ouvirmos os sermões em forma de vitupérios e sandices do Arnaldo Jabor, além das habituais previsões apocalípticas - e sempre furadas - de Merval Pereira.
https://www.brasil247.com/blog/que-em-2016-seja-realidade-no-brasil-o-imposto-sobre-grandes-fortunas
01 de janeiro de 2016
